O diploma morreu. Graças a Deus!

26 junho, 2009 at 21:40 (Uncategorized)

(com metonímia, o diploma pela obrigatoriedade)

Agora é em todo lugar que eu vou. As pessoas me olham solidárias como se eu tivesse recebido um soco no estômago. Porque eu mudei de curso, né, e agora é como se me tivessem passado uma rasteira. Esse negócio de diploma de novo. Desde que eu entrei no curso de Jornalismo pela primeira vez, em 2007, ouço essa chatice de diploma. E já naquela época não fazia sentido. Hoje menos ainda, claro. E eu fico chocado. Porque as pessoas que querem fazer Jornalismo e acham tão essencial receber um diploma no final do curso, já deveriam ter pesquisado sobre isso. Saberiam que a queda da obrigatoriedade já é assunto velho. Crônica de uma morte anunciada, como diria Gabo. Que não precisa de diploma pra ser bom.

Tem gente dizendo que agora qualquer mendigo poderá ser jornalista. Quem nos dera! Felizes seremos nós quando até os mendigos puderem ser jornalistas. Eu vejo isso como uma coisa boa, sabe. Porque quando todos os cidadãos tiverem a formação intelectual que esses jornalistas de diploma querem fazer parecer que têm, então seremos uma sociedade feliz. Infelizmente nem mendigos, nem camelôs poderão fazer jornalismo assim, sem mais nem menos. E a decisão do STF não desprivilegia, nem diz que jornalista não deve ter formação. Isso é o que os alarmistas querem que a gente pense. E são jornalistas, bem preparados, que estudam teoria, ética bla bla bla, os alarmistas. E são míopes. Não sei se sinceramente ou de propósito. Porque também são muito arrogantes, viu. Ficaram ofendidinhos em ser comparados a cozinheiros. Devem achar que jornalista é a última bolacha do pacote, coisa e tal. E agora estão com medo de competir com gente não-formada em comunicação. Dizem que é por pensar na sociedade, em como ela pode ser prejudicada por maus jornalistas e tal. Mas na verdade, na verdade mesmo, tem um pouco de corporativismo aí. Tão defendendo a reserva de mercado que a lei da ditadura criou. E não querem que os salários baixem. Porque eles consultaram a Mãe Dinah e viram que, selado, os salários vão baixar.

Não faz sentido, né. Porque esse negócio de obrigatoriedade de diploma nunca foi respeitado na prática. E ainda bem. Eu não consigo deixar de pensar. Que a obrigatoriedade só servia pra manter jornalista formado e medíocre no emprego. Porque o bom jornalista fazia o trabalho, mostrava que era bom e, só em último caso, mostrava o diploma. E aquela ong minúscula queria fazer um informativo pra comunidade e não queria contrariar a lei. Chamava um jornalista de aluguel só pra assinar o negócio. A ong fazia tudo, claro, entrevistava, escrevia, tirava fotos, digramava porcamente. O jornalista só recebia e assinava. Porque a lei idiota dizia: jornalista mesmo só com diploma.

O que eu acho mais incrível é alguém estar numa universidade e ficar dizendo que a universidade é essa maravilha toda. Que jornalista pra ser bom tem que passar pela universidade. Que a universidade é suficiente pra formar um bom jornalista. A verdade é que. Grandes merdas, a universidade. Fiz História numa universidade federal por dois anos. E vi com esses olhos aqui. Gente sendo aprovado sem conseguir escrever duas frases coerentes. Gente defendendo monografia sem pé nem cabeça. E recebendo regular, bom. Os excelentes só recebiam quem era bom mesmo. Mas R e B era pra todo mundo. Porque se os professores fossem rígidos, as turmas de colandos seriam de cinco, seis alunos. Por ano. Porque os professores não querem assinar o atestado da própria incompetência, né. E saem distribuindo atestado de competência incompetente pros outros. Os diplomas. Que agora todo mundo tá defendendo. Como se fosse o retrato ipsis litteris da formação do cara.

Eu falo de História. Mas em Comunicação não deve ser diferente. A julgar pela primeira prova. Colegas dizendo que não leram os textos, enrolaram, inventaram. E tiraram 8,5. O que é bom. A verdade é que a universidade não é condição suficiente pra ser jornalista competente. No máximo, ela possibilita essa boa formação. Mas não garante. É por isso que tá cheio de diplomado medíocre em todas as áreas. E também, não é condição necessária pra ser bom jornalista. Porque a ética do jornalista é a ética do cidadão. Quem disse foi o Eugênio Bucci. Que é formado na USP. Em Comunicação e Direito. Outros cursos de graduação ajudam o jornalista a ter a formação intelectual necessária.

Pra ilustrar tudo isso. Só dois exemplos. Sônia Abrão, que entrevistou ao vivo o seqüestrador da Eloá (a contribuiu para o desfecho trágico do caso), é formada na Cásper Líbero. Que é só a mais antiga escola de Jornalismo do país. E teve aula de ética. Mas deve ter gazetado. Já Lúcio Flávio Pinto, que é só o maior jornalista do Pará, nunca freqüentou a faculdade de Comunicação. Como aluno. Se formou em Ciências Sociais.

Mas isso é assunto pra outro texto. Como o modelo de universidade que usamos não funciona. O fato é que essa história de não obrigarem o jornalista a ter diploma, se não vai mudar nada, pode até ser bom. Porque agora a galera que faz Jornalismo pelo glamour da profissão (?), vai pensar mais cinco vezes antes de cometer esse crime contra si. E eu disse que. Quem tá pensando em desistir do curso por causa da decisão do STF, não deveria nem ter entrado. Que dê lugar a alguém que veja sentido em estudar Jornalismo. Principalmente nós. Que estamos usando o dinheiro de vocês pra estudar. A universidade pública não pode ser a fábrica de diploma que são algumas faculdades particulares. E nessas, o caso é ainda pior. Porque eu não sei o que elas ensinam que dois ou três meses em qualquer redação não ensinem melhor. Se o diferencial do curso público é a formação ética, humanística, a discussão teórica bla bla bla… e se isso não tem ou tem pouco na escola particular, eu não sei sinceramente qual a grande coisa do curso particular. Mas divago.

O que pessoal dos sindicatos, da fenaj, dos partidos não quer deixar os desavisados verem é que. Agora o diploma não é suficiente. E isso é lindo. Primeiro porque sempre foi assim, exceto quando algum bom samaritano respeitou uma lei que não fazia sentido. Segundo que. O jornalista vai ter que provar com o próprio trabalho que pode pegar o trabalho. Os diplomados medíocres vão ter que correr pra deixarem de ser medíocres. E as escolas vão ter que melhorar, né. Ou ninguém vai querer pagar 800 reais mensais pra aprender o que pode fazer sozinho.

Só pra constar: essa lenga-lenga de diploma não é, nem de longe, o grande problema da imprensa atualmente. O buraco é, claro, mais embaixo. Pela decisão do STF, não há motivo pra pânico, pra acusar golpe, pra entrar de luto, pra ficar de mimimi reclamando em como somos vítimas do sistema. Isso e aquilo. A gente tem é que se preparar pra notícia que nenhum jornal vai dar: a morte do jornal como o conhecemos. Quem falou muito bem dela foi o Rafael Galvão.Que alíás é publicitário. E deixou muito jornalista diplomado comendo poeira.

6 Comentários

  1. Paulo Rodrigo said,

    Olá, vi o teu blog na comunidade Blogueiros Paraenses e to add nos meus favoritos alguns blogs pra ficar acompanhando. Assim como tu, eu estou estudando jornalismo, e posso te dizer que no começo eu fiquei muito chateado, porque estavam tratando da minha profissão do que eu gosto, mas depois pensando direito vi que pode dar no mesmo. Um exemplo, é o curso de Publicidade e Propaganda que não é preciso de diploma para exercer a profissão, e um dia eu tentei um estágio para mexer em corel draw e Photoshop, e recebi um e-mail dizendo que eles só estavam contratando alunos de publicidade. Então não vai ser diferente com o jornalismo, as empresas ainda vão continuar contratando profissionais diplomados e etcs. To acompanhando o teu. Se der pra dar uma força no meu. será bem vinda. Abraços.

  2. Bianca Levy said,

    E ai beibe,já largou o curso? não? mas porquá? statos quo?

    • Adriano Fernandes said,

      larguei não. mas nós sabemos bem como é essa história de largar um curso pra fazer comunicação.

  3. Bianca Levy said,

    É, acho que sabemos da importância de um curso superior de comunicação nos dias de hoje, cheios de especificações, tecnologia e intenso fluxo de informações.né?

  4. Jessi said,

    O diploma pelo diploma, de fato, é dispensável. Mas, vamos combinar que a formação superior, quando levada a sério, é realmente necessária! Se com os cursos universitários já temos um mercado carente de bons profissionais, já que hoje a maioria dos estudantes escolhe jornalismo pensando em ser o novo rosto de destaque no horário nobre, imagine quando a formação teórica, sociológica e humana que alguns cursos dos mais comprometidos oferecem for totalmente dispensada no mercado de trabalho! Existe, sim, o “jornalismo” que qualquer um pode fazer e existe o JORNALISMO que deveria ser feito. Inconstitucionalizar a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão é retroceder ao tempo em que as únicas profissões que tinham valor para a sociedade elitista em que até hoje vivemos eram as de médico, advogado e engenheiro…

    • Adriano Fernandes said,

      Acho muito importante a formação teórica, sociológica e humana para o bom desempenho da atividade jornalística. Aliás, para quase qualquer profissão é assim: os melhores são os que tem boa formação nesses campos.

      Mas, o que eu não consigo entender, é pq essa noção geral de que SÓ, APENAS, TÃO SOMENTE o curso superior em Comunicação Social oferece isso. Não é perceptível que os bons cursos superiores das demais “humanidades” também oferecem a POSSIBILIDADE de o estudante ter essa formção teórica, sociológica, humanística? Pq SÓ o curso de Comunicação permite isso? Pq fechar as portas da nossa profissão a profisionais formados em outra áreas?

      Vá lá lutar pra que os jornalistas precisem ter diploma de nível superior (com algumas ressalvas, eu posso até aceitar), mas dizer que SÓ se tiver o diplominha do curso de Jornalismo o cara vai poder ser jornalista é simplesmente negar a realidade dessa profissão. Ainda bem que o mercado nunca levou essa história muito a sério.

      E os sindicatos (como é de praxe nos sindicatos) continuam com essa visão protecionista e anacrônica.

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